sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Animação Cultural: Do outro lado do muro...




Reflexões...

Durante as últimas três décadas, a escola tem sido o espaço de atuação do animador cultural brasileiro, mais precisamente no Estado do Rio de Janeiro onde sua proposta de trabalho esteve presente no Programa Especial de Educação, idealizado pelo professor Darcy Ribeiro e sua equipe quando da criação dos Centros Integrados de Educação Pública – CIEPs.
Mas, há notícias de que a nomenclatura de animador cultural já havia sido utilizada anteriormente por outros grupos de trabalhadores da cultura, a exemplo do maestro Villa Lobos, do arquiteto Oscar Niemayer e do sambista e compositor Neguinho da Beija Flor.
Decerto estes quase trinta anos de atividades da animação cultural na escola não foram suficientes para vencer as barreiras metodológicas criadas pelos modelos educacionais operacionalizados no Brasil, denunciados aos quatro cantos do país pelo professor Darcy ao considerar: "um dos grandes fracassos do Brasil, como povo e como civilização, ser nossa incapacidade de criarmos uma Escola Pública honesta e eficiente." Esta denúncia baseia-se na observação clara de as propostas pedagógicas da Escola Pública brasileira estarem a serviço de um grupo privilegiado da sociedade, não sendo capazes de reconhecer como alunado verdadeiro a maioria das crianças do Brasil, uma escola injusta, sentencia Darcy Ribeiro.
A escola continua aquartelada, quase que intransponível para aqueles que desejam e sonham com uma outra nova escola, verdadeiramente comprometida com o povo e com o seu futuro. O discurso tem caminhado distante da prática pedagógica, quando ao considerar a escola como sendo "minha", alunos e professores como "meus", enfim ao tomarem "posse" desta escola, não permitem que outros ajudem a construí-la de maneira a servir com igualdade, liberdade e fraternidade.
Não há que se abandonar a escola, mas talvez seja necessário mudar a estratégia para que algo de novo realmente aconteça. Olhar por cima do muro, pois se a revolução não foi capaz de acontecer no interior da escola, talvez seja a hora de deflagrá-la de fora para dentro. Na prática, seria a manutenção de grupos de animadores culturais resistentes no interior da escola, ao mesmo tempo em que se ampliaria a atuação destes em outros espaços, também propícios ao labor da animação cultural. Novas frentes, sob novas possibilidades de construção sociocultural.
E o campo é vasto, repleto de possibilidades cuja carência é tanto quanto a que existe no interior da escola. Assim, a prática de animação cultural se estenderia verticalmente por setores da saúde, da promoção e assistência social e da vida, da cultura, das organizações não governamentais, setores da iniciativa privada e comunitária, atuando entre trabalhadores, adolescentes e crianças em situação de risco, idosos, clubes sociais e de serviço. Na prática muito disso já acontece. Decerto o que falta é a tomada de consciência por parte de quem contrata e de quem atua como animador cultural no sentido de reconhecer tais práticas como próprias do animador cultural. Trata-se de educação não formal tomando corpo e atingindo, sensivelmente, o estrato social considerando outras vias de atuação.
Outro aspecto relevante reside na formação do profissional em animação cultural, ou melhor, na não-formação deste profissional, visto que não há no Brasil cursos técnicos ou de graduação na área, a exemplo do que já acontece em países europeus. Na década de 80, a iniciativa de Darcy Ribeiro ao integrar o animador cultural dos CIEPs, queria contar tão somente com os menestréis, cordelistas, sambistas, artistas práticos sem os "vícios" da sala de aula, sem a "contaminação" das pedagogias uniformizantes.
Mas, em pleno século XXI, quando o conhecimento, a formação e a informação passaram a fazer parte importante da integração social e cultural do homem contemporâneo torna-se necessário e urgente o preparo deste animador. Como forma de fortalecer ainda mais sua prática, o estudo continuado envolvendo os conceitos da sociologia, da antropologia, da história, dos estudos culturais e mesmo da pedagogia passam a figurar como ferramenta importante em sua formação profissional. É hora de olhar extra muros.

2 comentários:

  1. MUito pertinente a sua colocação. É isso aí. De tudo examinar e reter o que é bom, justo, fraterno, e cheio de verdade, integridade e humildae, considerando uns aos outros.

    Muito bom, amado animador.

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  2. BOM TER PESSOAS COMO VC EM NOSSO MEIO. O JUIZ DECRETOU A NOSSA EXONERAÇÃO MAIS JAMAIS VAMOS DEIXAR DE SER UM AGENTE TRANSFORMADOR NA SOCIEDADE ATRAVÉS DA CULTURA.

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