segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Reflexões sobre Animação Cultural, a partir dos Estudos Culturais (Parte II)


(Material pesquisado pelo Grupo de Estudos em Animação Cultural escolar do Pólo Regional Arte na Escola da UENF.)


O pensamento de Richard Shusterman (1998), reflete uma crítica ainda mais dura a esses processos lineares de produção cultural, quando ele diz: “Enormes somas são destinados à aquisição e à proteção de obras de arte enquanto quase nada é investido em educação estética que permitiria que essas obras fossem melhor aproveitadas no enriquecimento da vida de maior número de pessoas” (p. 47). Claro que a crítica não tem por objetivo desvalorizar as instituições tradicionais do campo artístico, mas faz um questionamento se estas ações não deveriam ser repensadas a fim de que se pudesse atingir a um extrato maior da população e consequentemente aproximá-los das ditas tradições culturais.
Cabe então uma pergunta: Quem estabelece o que seja tradição? O que realmente chamamos de tradição? Como e quem poderá incutir valores, sejam eles positivos ou negativos as manifestações culturais desse povo? Pergunta Melo. Seus questionamentos e inquietações se apresentam como sinal de alerta para os Animadores Culturais, pois estes não deverão ignorar os cânones, mas nunca idolatrá-los a partir de julgamento a priori.

Partindo dessas reflexões pode-se afirmar que o papel do Animador Cultural é mesmo de questionar e problematizar os conceitos de cultura, de arte e de estética construídos pela ideologia dominante. Cabe a esse mediador (Animador Cultural) ressignificar o papel da arte na vida cotidiana dos indivíduos e o espaço que será capaz de ocupar entre fomentadores de cultura sejam eles na família, na escola ou mesmo no tempo livre. Cabe ao Animador Cultural estimular esses indivíduos a compreensão de que enquanto produtores de manifestações culturais próprias não poderão aceitar os limites rígidos impostos pelas instituições artísticas formais. Fazer reconhecer que a experiência estética é o grande valor das obras de arte e que todo sentimento capaz de gerar a partir deste encontro com a estética de maneira livre, crítica e consciente é o que realmente importa. A arte cumpre com sua função quando permite ao indivíduo sua possibilidade de pensar criticamente e de promover sua escolha com liberdade de expressão. A arte na concepção de Melo não tem uma função, ela é uma função, ele diz: “Não se trata somente de pensar em uma educação pela arte, mas fundamentalmente em uma educação para arte”. Devemos ter consciência de que a arte por si só não terá a capacidade de modificar a realidade, nem mesmo a próprio indivíduo, mas o autor aponta ser este uma ferramenta de fundamental importância neste processo de transformação social.
Não será ela mais ou menos importante dentro do contexto de mudanças sócio-econômicas a serem implementadas, mas o entendimento de sua passagem pelo processo de produção será capaz de criar o acesso necessário para todo o seu potencial de transformação do tecido social.

Professor Melo reconhece que a mediação parece ser o modelo que se apresenta como de fundamental importância para lidar com as intervenções do campo da produção cultural e aponta a Animação Cultural como instrumento capaz de criar esta mediação, pois a Animação Cultural é uma proposta de educação que ao buscar quebrar uma certa unilateralidade no processo de comunicação parte do princípio da “deseducação”, da desestabilidade dos parâmetros da formalidade educacional. Cabe a Animação Cultural o desafio de ressaltar seu papel enquanto tecnologia educacional que pode contribuir para a construção da nova ordem social. Esta deverá acontecer já levando em consideração a articulação entre teoria e pratica, entre produção e intervenção ao mesmo tempo em que possibilite a aplicação dos três modelos de pesquisa apontados pelos Estudos Culturais propostos pelo pesquisador Johnson (2003), que avança por caminhos capazes de responder de maneira concreta tais necessidades de atuação da Animação Cultural: 1) preocupações com a produção, uma luta para transformar os meios de produção cultural e desenvolver alternativas de contraposição; 2) preocupações com o texto, focalizadas na forma dos bens culturais, identificando possibilidades de uma prática comprometida com a transformação e 3) preocupações com a cultura vivida, apoiando, defendendo e estimulando os diferentes arranjos de vida de grupo subordinados sempre a partir da idéia de mediação.

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