Livro do Congresso de Animadores Culturais, Aveiro - Portugal, 2010. |
O pesquisador português Bruno Calheiros define a animação cultural como:
“uma forma de educação não formal, aberta às necessidades da comunidade, cuja dinâmica participativa vai determinar de que maneira a interação social acontece, numa ação sociopedagógica que visa o despertar da razão e a tomada da consciência do indivíduo para as transformações sociais individuais, coletivas e nos conflitos de interesses”.
Numa tentativa de legitimar o escopo da indústria cultural, a escola acaba por reproduzir o mesmo modelo totalizante responsável pela homogeneização de hábitos, costumes, crenças e pensamentos da sociedade contemporânea. Será neste contexto que a animação cultural encontrará seu campo de batalha e, consequentemente, seus maiores desafios. Partindo do pressuposto de que a animação cultural tem por função primária a mediação dos bens culturais e, que esta não acontece sem a intervenção necessária junto às estruturas da sociedade a que ela se dispõe, é necessário que rompamos com os velhos preconceitos que ecoam ainda no país que concebem como função de animador cultural a caricatura de recreadores e festeiros de plantão, sempre descontextualizados da realidade.
A experiência de uma nova síntese educacional inaugurada com os Centros Integrados de Educação Pública (Cieps), nas décadas de 80 e 90, por Darcy Ribeiro, fracassa no momento de seu nascedouro quando a escola tradicional/tecnicista não reverbera seus conceitos pedagógicos e não permite a manutenção de suas práticas construtivistas.
Numa relação marcada pelas desigualdades sociais e manipulação da classe dominante (aqui se lê classe média) a escola pensada por Darcy não poderá ser permitida, pois ela só existe como possibilidade real de reequilibrar a balança, permitindo que o filho da pobreza tenha acesso á Educação, e Educação de qualidade.
Um movimento perigoso no tabuleiro de xadrez das relações sociais, onde os filhos do Brasil não se poderiam sentar a mesma mesa e participar do mesmo jogo. Xeque mate. Perdemos mais uma vez o bonde da história. Um hiato de quase três décadas entre a escola darciliana e as famigeradas cotas universitárias, estas existentes tão somente como ações compensatórias pela covardia que praticamos num passado recente, condenando pelo menos duas gerações á marginalidade em todos os seus aspectos.
Tais relações só acontecem mediante a construção de esquemas simbólicos de pensamentos capazes de costurar e organizar a realidade de acordo com o jogo de interesses da classe dominante.
“o jogo do real como algo abstrato, a partir do momento em que o indivíduo preso as teias de pensamentos, recebe pressão externa do grupo que apresenta como ‘realidade’ somente aquilo que é socialmente aceito como real.” (Kurt Lewin)
A organização e valoração dos objetos simbólicos do real se dão a partir dos esquemas lingüísticos e intelectuais apontados por Whorf capazes de determinar o grau de importância a ser apreendido pelo indivíduo, que absorve estes esquemas, na maioria das vezes, de forma inconsciente. Elegemos a escola como ferramenta operacional de interpretação destes símbolos e, damos a ela o poder de classificar o universo das obras filosóficas, literárias e artísticas culturais a serem assim apresentadas.
Para Bourdieu a escola não cumpre apenas a função de consagrar a “distinção” entre os signos e seus significados, do que ele denomina como “classes cultivadas”. No seu entendimento, a cultura que a escola transmite tem o poder de separar os que a recebem do restante da sociedade, a partir de um conjunto de diferenças sistemáticas, determinando os conceitos de cultura, cultura erudita, cultura popular e cultura de massa.
Wilson Heidenfelder
Presidente-fundador do CEACDarcy
(extraido do livro do Congresso de Animadores(a) Animação Sociocultural - Profissão e Profissionalização dos Animadores - Aveiro. Portugal, 2010)
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