Fator desagregador com relação ao espaço público de lazer e seu declínio está diretamente relacionado às questões tecnológicas que têm seu início na década 1970, com a privatização das convivências sociais do cotidiano, restringindo a pessoa, cada vez mais, aos espaços privativos e domésticos. Ontem a televisão e o vídeo cassete; hoje a televisão e o aparelho de DVD. Porém, será no Século XXI que estas relações sofrerão com o que chamamos de Síndrome Aguda do Isolamento Social (grifo meu), cujos efeitos são observados a partir das mudanças comportamentais sob a influência dos novos modelos de endereçamento patrocinados pela WWW .
A teia globalizada e globalizante justificada pela Internet inaugura uma nova onda: a virtualidade das relações sociais. Mais uma vez o espaço público e com ele toda possibilidade das relações interpessoais são substituídos pelos amigos virtuais espalhados na rede, conectados aos seus MSNs, Orkuts, Blogs e Twitters que passam a assumir o papel de mediadores sociais da contemporaneidade.
Não se deve com isso deixar de reconhecer o papel da tecnologia enquanto ferramenta decisiva de sustentabilidade e disseminação da cultura de massa, utilizado muitas vezes e sendo confundido com o consumo passivo de megaeventos distribuídos e oferecidos a partir de um modelo global preconcebido.
Victor Melo (2003) aponta como principal causa desta realidade de desmantelamento das ações públicas com relação aos espaços de lazer e entretenimento a negligência para com a grande parte da população que não participa das oportunidades de acesso aos bens culturais da cidade e dá como exemplo o fato de as praças e espaços públicos de lazer mais belos e bem cuidados estarem localizados nos bairros mais abastados. Aponta para casos de maior gravidade deste processo quando a privatização destes bens culturais é operacionalizada, a partir da cobrança de entrada nestes espaços, a exemplo do que acontece com o Corcovado e o Pão de Açúcar (na cidade do Rio de Janeiro/Brasil) e suas taxas elevadas, que não propiciam para a maioria da população o acesso a estes locais.
Mas o problema não está situado na questão somente da má distribuição geográfica destes bens culturais. Para Victor Melo (2004) a problemática tem sua origem principal nas questões inerentes ao processo de educação e de vontade política voltados para o desenvolvimento cultural que reconheça em sua população o agente mediador deste processo desenvolvimentista.
Isso não quer dizer que as camadas mais abastadas da sociedade não tenham problemas em acessar tais bens culturais, mas com certeza estes possuem mecanismos facilitadores para resolvê-los. Também não significa que as camadas populares não tenham espaços alternativos para que sua produção cultural se estabeleça.
As reflexões aqui estabelecidas querem propor um espaço democrático e aberto para o debate, capaz de envolver, dar ânimo, fazer vibrar a alma de gestores públicos, mediadores culturais e do próprio cidadão sobre a urgência em se (re)pensar os modelos hoje estabelecidos como funcionais. Modelos capazes de responder positivamente á dinâmica estruturante da geografia social, política e cultural, dos seus equipamentos, bens culturais e, principalmente com relação ao acesso igualitário do tecido social á própria cidade, no momento em que se reconheça no profissional de animação cultural este agente cujas ações ultrapassem os limites dos muros escolares e consigam ganhar outros campos de batalha.
Se historicamente o animador cultural brasileiro teve sua identidade inter-relacionada com a pedagogia escolar, deverá, a exemplo dos animadores socioculturais europeus, demarcar seus espaços em outros segmentos da sociedade contemporânea, uma ação coordenada, planejada e apoiada em formação qualificada para animadores em atividades em todo o território brasileiro.
(Heidenfelder, Wilson Renato C. Jr. - Animação Cultural: Olhar Extra Muros - Novas perspectivas para o mercado de trabalho no Brasil, 2010)
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